Há pessoas que vivem apenas das ideias das suas cabeças. Atravessam o mundo por elas. Resistem a todos os nãos. Mais cedo ou mais tarde brilham. Saber sofrer é saber vencer.

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20
Set 10

 

 

Valdeon

 

    

 

 

Tudo começou á muito, muito tempo atrás. Bem, não foi assim á tanto tempo, foi apenas á alguns anos quando um dia daqueles mais enfadonhos passeava pela internet e vi algumas fotos dos Picos da Europa. Um lugar que passaria a fazer parte do meu imaginário e consequentemente um objectivo a atingir.  
No inicio de Agosto tomei conhecimento que o Clube de Praticantes de Montanhismo Um par de botas se iria mais uma vez aventurar neste destino por mim á tanto tempo desejado. Para eles seria mais uma aventura, para mim seria a realização de um sonho. Apesar de todos os entraves parecerem ultrapassados ainda estava com algumas indecisões mas já sentia o sangue a ferver com a excitação. Mas, não havia muito a hesitar, a oportunidade estava ali e decidi não a deixar escapar.   
Em vésperas do primeiro dia de Setembro fazem-se os últimos preparativos e põe-se o relógio a despertar para as 4:50 Horas para aquele que seria o primeiro dia de aventura. Tal era a excitação que acordei ás 4:43 e saltei da cama surpreendendo o relógio antes de ter tempo de soltar o seu som estridente.
  
Pelas 5:30 Horas, ainda a cidade dormia, já o grupo de cinco aventureiros se encontrava reunido no local do costume, viam-se algumas poucas almas de ambulantes pela rua, ainda sonolentas mas que pelo passo que levavam tinham destino marcado. Que pensariam elas, que acabaram de ser arrancadas da cama se soubessem o propósito de ali estarmos. Que seriamos doidos, doentes ou outras coisas piores, mas de uma coisa tenho a certeza, estávamos mais vivos que elas.
  
 Bagagem carregada estava na hora de partir, pois a jornada é longa e o relógio não espera. Estrada fora, uns tentando recuperar das poucas horas dormidas, outros tertúliando sobre assuntos diversos. Depois de muitos quilómetros e algumas paragens para café chegamos a Riaño, uma pequena vila encostada a uma albufeira rodeada de montanhas que nos ofereciam um pequeno vislumbre das paisagens que se seguiriam. Após uma pequena paragem para desentorpecer as pernas colocamo-nos a caminho para a última etapa da viagem que nos levaria a Valdeon, uma vila pitoresca aninhada entre gigantescas montanhas e que ficava a caminho de Cordiñanes, local onde deixaríamos a viatura e após uma refeição ligeira e reforçarmos as reservas de líquidos. Este seria o ponto de partida, os nossos olhos percorriam em vão a encosta da serra procurando o trilho que deveríamos seguir. Se não fossem as marcações do trilho e a experiencia dos companheiros de aventura acho que dificilmente sairíamos do local de partida.
  
Após caminharmos algumas dezenas de metros chegamos ao sopé da montanha onde existe um pequeno trilho, que não tem mais de 80 cm de largura, em alguns pontos talvez menos, e que nos vai conduzindo em torno da serra, sempre a subir. A dada altura olhamos para cima e deparamo-nos com varias dezenas de metros de rocha escarpada, olhamos para baixo e temos a mesma visão. Aqui não á tempo para parar nem lugar para ter medo. Limitamo-nos a caminhar e a subir até chegarmos ao Canal de Asotín. Aqui sentimos mais segurança, a paisagem muda, agora caminhamos por um vale arborizado que nos leva a um prado verdejante onde algumas cabras vão pastando indiferentes a uem por ali passa. Mas as facilidades são ilusórias neste terreno, se até aqui parecia difícil para a frente acabaria por ser pior. Para chegarmos ao nosso destino ainda tínhamos muito que subir. Quando parecia que seria impossível vencer a montanha começa a chuviscar, o que nos iria obrigar a reforçar os cuidados pois as rochas começaram a ficar escorregadias. Com passos curtos mas determinados íamos avançando no terreno até que ouvi um estrondo que pela sua violência seria sinónimo de perigo. Num gesto quase mecânico voltei a cabeça para traz, com tanta velocidade e amplitude que o meu pescoço permitiu e vi um bando de pássaros esvoaçar seguindo-se uma derrocada de pedras. Inconscientemente dei alguns passos apressados para me desviar mas naquele momento já estava fora de perigo. Os que estavam mais adiantados aguardaram pelos que ficaram para traz para nos certificarmos que estávamos todos bem e nos agruparmos pois segundo o chefe mais á frente “iríamos ter que usar as mãos”. Esta expressão não me suou bem, mas também não quis saber o que significava. De qualquer forma também não ficaria muito tempo na ignorância pois não tardou estava diante de uma parede que teríamos que escalar. Escalar? Mais uma novidade para mim, acho que nunca fui bom nem a trepar arvores para roubar fruta nos meus tempos de escola. Sem pensar muito deitei mãos às rochas tentando encontrar pontos de fixação seguros para a escalar. Não consegui evitar alguns passos falsos ou tropeções dos bastões que habitualmente servem para nos auxiliar, mas nestas condições só atrapalham. Terminada a parede já se vislumbra o telhado e uma ponta do alpendre do refúgio Collado Jermoso, onde iríamos pernoitar. Esta visão deu algumas forças que seriam bem necessárias para a última subida, talvez a mais violenta do dia pois para além do declive só tinha cascalho o que fazia que a cada passo que déssemos para a frente deslizássemos no sentido inverso. Se não fosse tão duro e já termos feito cerca de 1100 metros de desnível até teria sido divertido. 
Refugio Jermoso
 
Chegados ao refúgio deparamo-nos com uma pequena casa construída em 1942 a uma altitude de 2065 metros, voltada para um precipício e com uma vista magnífica. A sua porta rude em ferro dá acesso a um pequeno átrio onde podemos descalçar as botas e darmos algum descanso aos pés dentro de socas disponibilizadas. Deste pequeno átrio temos acesso através de umas escadas quase verticais ao sótão onde existem colchões pelo chão onde viríamos a dormir. A sala de jantar tinha a mesma arquitectura da casa, em jeito de taberna do Minho com chão em cimento, bancos de madeira e mesa com toalha em plástico com quadrados vermelhos e brancos. Pelas paredes estão espalhados alguns quadros com fotos tiradas na zona ou de locais que mais tarde espero vir a descobrir. Algumas pequenas janelas deixam entrar alguns raios de luz e deixam-nos jantar acompanhados pela beleza da serra. A casa de banho, bem, a casa de banho não existe pelo que cada um tem os cuidados de higiene que pode. Uns toalhetes para passar pelo corpo e uma lavagem aos dentes terão que servir. Apesar das condições que este refúgio nos oferece parecerem ser escacas, nunca nos faltou nada, aliás acho que se mudarem alguma coisa estragam este local.
 

 

 A hora de jantar é uma festa, ladeados pelos companheiros ou por desconhecidos que ali estão com o mesmo propósito, vamo-nos fartando para tentar recuperar as energias que perdemos durante o dia. A ementa passa sempre por uma sopa e um prato de massa. Massa, massa todos os dias, preparada das mais variadas formas, mas que dadas as condições parece um autêntico repasto dos deuses.

 

Já deitados na cama, ou melhor nos colchões íamo-nos acomodando tentando encontrara melhor posição para o merecido repouso, mas eu no meu canto permanecia vigilante, ouvindo a chuva que caia, agora com mais intensidade sobre as telhas que nos estavam tão próximas. A minha respiração estava mais acelerada e profunda que o habitual, era o meu corpo a tentar adaptar-se á altitude a que não estava habituado. Sempre que fechava os olhos era assolado por imagens do percurso que fizera durante o dia, só que agora estava aterrorizado por imagens de pedras a cair das escarpas e de quedas em ravinas e por todos os perigos a que estive sujeito mas que no terreno me tentava abstrair concentrando-me apenas no nosso propósito. E uma ideia igualmente arrepiante, a de que o dia seguinte as dificuldades seriam maiores. 

 

 

 

Continua...

 

publicado por Paulo da Silva às 21:06

18
Ago 10

Estranhos fins de tarde estes em que olho pela minha janela e vejo todo o horizonte enublado por espessas camadas de fumo.

O sol em vermelho escuro não consegue romper por entre estas nuvens, e as faúlhas que silenciosas vão entrando pela janela marcam a sua presença em todas as superfícies.

 

É estranha esta imagem, a que, dia após dia, estranhamente nos vamos habituando.

 

São tantos os anos que demora uma semente e fortalecer-se e a formar uma árvore, e tão poucos os minutos para que a sua existencia seja destruída.

 

 Ouvimos o crepitar das plantas a pedir misericórdia pelo seu infortúnio e as suas almas que se elevam no céu em forma de fumo. Soldados da paz vão-se debatendo até á exaustão sem nada poderem fazer. Populações desesperadas tentando defender os seus haveres e os animais esfomeados que vão deambulando pelos terrenos onde antes encontravam prados agora encontram planícies desprovidas de vida.

 

Tristes almas que provocam tamanha devassidão. Pudesse eu, com as minhas palavras ferir de morte estes assassinos que não compreendem o mal que fazem, que acendem um fósforo motivados por interesses pessoais, e que não entendem o mal que fazem para prazer das suas curtas e miseráveis vidas, mas que vão destruindo toda a existência deste planeta que é a nossa casa.

publicado por Paulo da Silva às 12:08
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24
Mai 10
Numa freguesia do meu Minho, numa rua como tantas outras, ladeada por campos e montes, debaixo de carvalheiras, uma romaria, quase um encontro familiar, reúne a população da aldeia e alguns forasteiros para um convívio com a natureza e um regresso ás origens ao som de concertinas e cantares ao desafio. Belo acontecimento este que reúne dezenas de pessoas levando algumas a um pé de dança no pó que da terra se levanta. Do aglomerado que aqui se junta destaca-se uma personagem, o Ti Armindo, que pela atenção e cuidados que desperta adivinha-se uma pessoa querida entre os seus impares. Digo impares pois entre os presentes ninguém se lhe assemelha na idade. O seu octógono aniversário já há muito passou, o sentido da visão foi pelo tempo parcialmente retirado, mas mantém a lucidez de uma pessoa que foi instruída pelos seus longos e árduos anos. Pele queimada pelo tempo, olhar esguio como quem procura a melhor focagem das imagens que defronte dos seus olhos quase moribundos vão passando, o Ti Armindo vai caminhando pé ante pé, apalpando as irregularidades do terreno que vai pisando em direcção á cadeira que foi estrategicamente colocada defronte do palco, para que o Ti Armindo possa apreciar, e talvez recordar os seus tempos de juventude. De tempos a tempos vai aplaudindo os sons que ouve, num gesto quase mecânico imediatamente interrompido pela necessidade de procurar nos seus bolsos a carteira onde tem cuidadosamente guardados os seus cigarros, dispostos harmoniosamente como se de um tesouro se tratasse. Mas o isqueiro prega-lhe uma partida, apesar das consecutivas fricções insiste em negar-lhe a chama desejada. E neste clima vamos desfrutando desta tarde, uns ouvindo os sons de outrora, outros dançando e o ti Armindo insistindo no seu isqueiro que insiste em negar-lhe o fogo desejado, mas sempre acompanhados pela sombra dos carvalhos, que frequentemente é perturbada por uma leve brisa.
publicado por Paulo da Silva às 21:12
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19
Jan 10

 

        Era um dia como outro qualquer, nada fazia prever que fosse diferente do anterior e adivinhava-se igual ao que se lhe sucederia. Não fosse o estar aqui, sentado, nas duas pedras que formam esta ponte, com as pernas pendentes sobre o rio num esforço vão de tocar a água que por ele corre, e teria sido mais um dia banal. Mas a partir desse dia, todos os dias seriam diferentes, pois aquele local emanava uma energia que desconheço, como se me impelisse para um outro tempo, como se fosse vontade divina levar-me numa viagem pelas memórias deste lugar. Assim deixei-me embriagar pelos cheiros e pelas cores da natureza e embalar pela melodia das águas límpidas do rio Guisande, e com um breve serrar dos olhos deixo-me imaginar como seria este caminho á muitos anos atrás, quando era percorrido pelos nossos antepassados, que, ora debaixo do sol tórrido, ora em tempos de gélida névoa, mergulhavam as suas mãos nesta terra procurando colher o seu sustento. Tempos duros em que se partilhava a labuta com os animais. Juntas de bois que obedientemente puxavam arados e rasgavam os solos onde manualmente se ofereciam sementes á terra na esperança de que ela retribuísse com frutos o suor que sobre ela fora derramado. Mesmo no dia estipulado para descanso pelo Senhor, este caminho, chamado de Lamela, não carecia de movimentação, pois era o caminho mais próximo para a igreja, que lá no alto parece abençoar estas gentes. As pessoas que o percorrem, são as mesmas que por aqui trabalham durante os restantes dias da semana, só que nesse dia, apesar de não conseguirem apagar as rugas dos seus rostos nem a aspereza das suas mãos provocadas pelo rigor das suas vidas, surgem com as suas melhores vestes, trajes domingueiros, usados apenas em dias de ir á igreja ou em dias de festa, muitas vezes comprados a prestações ou á troca de trabalho. As senhoras exibem orgulhosamente ao pescoço os seus cordões de ouro e os brincos que vão rasgando as orelhas devido ao seu peso. Bens que para alem do seu valor material constituíam uma riqueza emocional pois iam passando de geração em geração. Neste dia reina no campo a tranquilidade, apenas alguns pássaros debicam a terra procurando algumas sementes que ficaram á superfície.
 
Este caminho que serpenteia por entre campos, e nos transporta por momentos de paz e tranquilidade, sob a sombra das ramadas, e delimitado por paredes de granito, permanece em terra batida até um troço invulgar, empedrado em granito, de uma forma muito pouco vista ou mesmo única neste concelho que nos conduz até uma pequena ponte sobre o rio Guisande, construída apenas com duas pedras. Para além da ponte, um pequeno trilho, com pedras que o tempo fez desabar, leva-nos até uma visão secular. O cruzeiro da Quinta. Este cruzeiro de características únicas foi construído em 1568 junto a uma estrada que serviria de ligação entre Vila do Conde e Braga. As poucas pedras que pavimentam esta estrada encontram-se polidas por séculos e séculos de carros de bois que as percorriam, com as suas rodas rangendo sob o esforço a que eram sujeitas nas suas longas viagens transportando bens para serem comercializados nas feiras da região. Ocasionalmente apareciam dobrando a curva, grupos de peregrinos que se deslocavam em peregrinação para S. Tiago de Compostela e que ao aproximarem-se do cruzeiro que lhes servia de farol, entoavam rezas e faziam vénias dando graças e pedindo forças para continuarem a sua caminhada. Este caminho de S. Tiago á muito tempo esquecido, atravessava a freguesia e seguia por Braga em direcção a S. Bento da porta Aberta e dali para S. Tiago de Compostela.
 
 

 

 
 

 
 
 
publicado por Paulo da Silva às 22:17

04
Jan 10

Com a chegada do final de cada ano vamos comendo passas ao som das badaladas que anunciam a chegada de um novo ano. Com estes rituais formulamos desejos como se se tivesse completado um ciclo e se iniciasse um novo. Mas no início de cada novo ano, rapidamente verificamos que a mudança é uma pura ilusão, os nossos amigos são os mesmos (e ainda bem), no trabalho, contínua tudo igual e até o dinheiro continua a escassear nas nossas carteiras. Em poucos dias voltamos á normalidade, esperando por um novo 31 de Dezembro que nos traga mais e novas esperanças. E assim vamos esperando ano após ano.

Mas afinal esperamos o quê?
A verdadeira mudança não vem de fora, mas de dentro de cada um de nós. De nada vale baixar-mos os braços, encerrarmo-nos no nosso egocentrismo. No final de contas nunca somos tão bons, nem os outros são tão obtusos como julgamos, existe sempre uma forma de sermos e fazermos melhor. Temos que ser capazes de ouvir os outros, pois por muito descabidas se sejam as frases que nos chegam, podem sempre trazer uma palavra, uma dica que nos indique o melhor caminho a seguir. Da mesma forma, também devemos ter sempre uma mão aberta àqueles que com gritos de revolta, inconscientemente nos pedem ajuda.
 
Em cada final/início de ano é tempo de reflexão, sobre o que de mal se fez no passado, e sobre o que de bem se pode fazer no futuro. É certo que muitos erros continuarão a acontecer, mas faz parte da natureza humana evoluir e evitar os erros do passado.
Os objectivos estão traçados. É certo que o caminho não é uma linha recta mas tem um ponto de chegada, que por sua vez será um novo ponto de partida no início de 2011.
 
Em 2010 não vos desejo um bom ano, mas desejo que façam de 2010 um ano bom.
publicado por Paulo da Silva às 15:04
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24
Out 09

 

 

 

A aventura começa pela manhã, não muito cedo, mas de forma a cumprirmos os nossos objectivos antes de anoitecer. De mochila às costas lançamos as nossas botas ao caminho, vamo-nos seguindo uns aos outros procurando o trilho assinalado pelas mariolas ou abrindo novos caminhos que umas vezes nos levam ao nosso destino e outras não nos levam a lado nenhum.

Ora perdidos por entre a vegetação ora trepando rochedos, vamos descobrindo a serra, biqueirando pedras soltas que sorrateiramente nos aguardam no caminho, num esforço vão de nos vedarem a passagem. Algumas silvas escondidas entre a urze tentam agarrar-nos as pernas, mas não vamos deixar que nos atrasem a jornada, até porque o dia avança com passos mais rápidos que os nossos.

Um pequeno ribeiro marca o ponto mais fundo do vale. Serpenteando por entre as pedras vai formando lagoas transparentes onde o terreno oferece resistência á sua passagem.

Contrariando o percurso do ribeiro, vamos subindo a serra, os garranos e as vacas que por ali pastam param a sua actividade e seguem-nos curiosamente com o seu olhar. Até uma pequena aranha vermelha que montou a sua armadilha junto ao chão estranha estes medonhos visitantes. Mas passemos alguns metros ao lado para não a perturbar, nem afugentar as suas possíveis presas. Retomado o caminho vamos respirando os cheiros da natureza, ali ao lado, um arbusto de azevinho tenta chamar-nos a atenção com os seus frutos vermelhos. Paramos para apreciar a paisagem e aproveitar para descansar um pouco já que as pernas vão acusando algum cansaço. Olhamos para cima e ganhamos ânimo pois o topo da serra é já ali. Inspiramos fundo, tão fundo quanto nos é possível, e continuamos a nossa escalada. Só que chegado ao ponto que julgávamos ser o topo, surge mais outra subida e finda esta, mais outra e outra, que parecem nunca ter mais fim.

Depois de um derradeiro esforço chegamos ao cume da serra. Extasiados pela paisagem que nos surge pela frente ficamos imóveis, instala-se o silêncio por breves momentos, contemplando o vale que a força da natureza construiu. As pernas param de reclamar pelo cansaço, as bolhas nos pés sabem-nos a troféus. Uma leve neblina esbarra-se nos nossos rostos transpirados provocando suaves arrepios como se um beijo da natureza se trata-se.

Aqui em cima o tempo pára, não se medem dias ou horas, apenas se contam estações. Aqui não existem problemas nem stress, não temos nomes e de nada valem as riquezas de barões e sultões. Aqui, sentimo-nos os senhores do mundo, temos o mundo debaixo dos nossos pés. Mas perante a grandeza desta natureza, somos tão importantes como o mais simples nada. Mas, é aqui que me sinto bem e quero cá voltar.

Lá no alto, o sol vai-nos avisando que está na hora de regressar. Começamos a descer a serra, com a alma mais leve, mas com os cuidados necessários para não deixarmos marcas da nossa passagem.

No regresso, cambaleantes mas com sorrisos na fronte, vamos planeando a próxima aventura, que se espera nos leve mais longe e mais alto, ou pelo menos por novos caminhos. Como se nos alimentássemos da vontade de ultrapassar os nossos limites.

Agora já vivemos um dia por semana.

Resta-nos aprender a viver os restantes.

 

publicado por Paulo da Silva às 22:10
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06
Out 09

 

 

Á poucos dias ouvi, de uma das pessoas com mais longevidade nesta terra que em tempos idos Arnoso Santa Maria gozava de algum progresso em relação ás freguesias vizinhas. Segundo as suas palavras, a população de Tebosa olhava o céu e via com alguma inveja os cabos que traziam a electricidade para Arnoso enquanto eles permaneciam na penumbra. Mas enfim, são tempos de glória que já lá vão. Parece que entretanto paramos no tempo a contemplar as lâmpadas, fascinados com a electricidade que nos entrava casa adentro e esquecemo-nos de continuar a evoluir. Esta distracção fez com que hoje levemos lições de progresso. Estamos neste momento a dar os primeiros passos em algumas infra-estruturas que eles já têm á anos. É como se estivéssemos a tentar chegar á Lua e eles a voltar de Marte.
Quis em 1960, um ilustre Arnosense deixar gravado no granito de um cruzeiro a expressão “O popule ab arnoso surge et ambula”. Esta expressão, que insiste em permanecer gravada através de gerações, e que traduzida do latim lembra quem por ali passa que “o povo de Arnoso distingue-se e evolui” no entanto esta expressão pouco reflecte aquilo que na realidade temos sido.
 Arnoso, “Vila” de Ramiro Pais e terra que deu nome ao título atribuído a um Conde, permanece verdejante, tranquila e parada no tempo. Os Nossos antepassados envergonham-se com que fizemos com o legado que nos deixaram.  É tempo de levantar os olhos e termos orgulho daquilo que somos. É bom vivermos numa terra tranquila mas não nos podemos esquecer que existem necessidades básicas que não podemos descurar e que são essenciais ao nosso bem-estar. Também somos guardiões de uma grande carga histórica, que temos obrigação de preservar e divulgar, para que os nossos descendentes sigam o nosso exemplo e não  apaguem deste mundo o rasto da nossa existência.
“O popule ab arnoso surge et ambula”
publicado por Paulo da Silva às 22:16
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29
Set 09

  I have a dream, Tal como Martin Luther King, também tenho um sonho.

Sonho comigo em Arnoso Santa Maria daqui a alguns anos, em frente a um cruzeiro do Sec. XVI, que em tempos marcou um dos caminhos de S. Tiago de Compostela. Recentemente recuperaram um estreito atalho, muito bonito que ligava este cruzeiro, que é património nacional, ao lugar do outeiro, este atalho com um piso empedrado, que nos domingos encurtava o caminho dos habitantes do outeiro para irem á missa com os seus fatos domingueiros esteve durante anos esquecido, quase perdido entre a vegetação. Agora recuperado é percorrido por visitantes que procuram a tranquilidade da nossa terra. Em frente ao cruzeiro, existe, muito bem preservado um pedaço de troço de uma via que nascia em Vila do Conde e atravessava Arnoso até Braga. Da forma como este troço foi preservado podemos ter uma percepção da evolução dos tempos. Uma pequena via com pouco mais de 1,5 metros de largura, que em tempos idos era uma das mais importantes do concelho e que hoje podemos comparar com a larga auto-estrada que passa ao lado da freguesia. Deste local, e pelo simbolismo que tem, partem hoje peregrinos para S. Tiago de Compostela, são pessoas que insistem em manter viva a história e as tradições.
Deste lugar quase mágico temos um caminho que nos leva á Igreja da freguesia através de uma avenida com um largo passeio que dá segurança e tranquilidade aos peões e visitantes, Ésta igreja construída no sec XVII, dizem ser a mais bela do concelho, tem um interior maravilhoso, com um altar em talha dourada. Foi alvo de uma intervenção no exterior e dentro dos possíveis devolveram-lhe a sua traça original, estas obras antecipam as celebrações de mais do quarto centenário da sua construção. Ao lado da Igreja, onde outrora existia um passal, existe hoje um bar de um grupo de jovens, que muito inteligentemente o transformaram num bar museu, e onde homenageiam as actividades de cestaria e tecelagem, actividades que durante muitos anos ajudaram a alimentar as gentes desta terra. Lá podemos ver um antigo tear, algumas passadeiras e mantas, um banco onde os cesteiros preparavam a madeira e as ferramentas que utilizavam. Lá perto, na cave da casa paroquial, existe um museu onde podemos apreciar paramentos, livros antigos e objectos que a população doou em manifestações de fé. Como a hora do almoço se aproxima, acho que vou ficar mesmo por aqui, já que tem um óptimo parque de merendas e um parque infantil para entreter os miúdos.
Ao fim do almoço continuo a minha visita por esta terra. Passo pelo adro que também foi harmoniosamente recuperado. Mas continuemos a viagem que segue por um pequeno trilho que foi encalcetado e que dá acesso a uma fonte de água fresca. Um pequeno rego talhado na pedra conduz a agua a um tanque, que por sua vez a transborda para um tanque maior , tanque este onde outrora os cesteiros colocavam a madeira de molho antes de a prepararem para os seus cestos. Mais uma vez aqui se homenageiam os cesteiros. Até aqui se vê a nobreza do povo de Arnoso que honra os seus antepassados. Acho que vou parar um pouco por aqui, na sombra deste telhado que cobre o tanque. Este telhado não existia aqui. Foi colocado para substituir uma cobertura de cimento que aqui existia e que descaracterizava o local. Também não existe acesso a viaturas já que este local se destina apenas ao lazer dos habitantes e visitantes. A água que da bica jorra é pura, pelo menos é o que diz a placa da última análise que efectuaram. Depois de beber um pouco desta frescura e tranquilidade retomo a minha caminhada pois este estreito trilho que nos leva por uma escadaria com pequenos nichos que nos lembram as estações da morte de Cristo. Lá no alto está uma capela. É uma pequena capela dos anos 80 mas que tem belas pinturas no seu altar, mas o que verdadeiramente me traz aqui é a vista sobre o vale, aqui em cima sentimos que estamos no topo do mundo, e aqui acabo o dia a ver o por do sol., nesta linda terra de condes e onde se consta ter sido escrito o primeiro documento em português. De regresso vou pela calçada senhor dos passos, que por ser património municipal também merece uma visita. 
"O popule ab arnoso surge et ambula"
publicado por Paulo da Silva às 20:20
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