Numa freguesia do meu Minho, numa rua como tantas outras, ladeada por campos e montes, debaixo de carvalheiras, uma romaria, quase um encontro familiar, reúne a população da aldeia e alguns forasteiros para um convívio com a natureza e um regresso ás origens ao som de concertinas e cantares ao desafio. Belo acontecimento este que reúne dezenas de pessoas levando algumas a um pé de dança no pó que da terra se levanta. Do aglomerado que aqui se junta destaca-se uma personagem, o Ti Armindo, que pela atenção e cuidados que desperta adivinha-se uma pessoa querida entre os seus impares. Digo impares pois entre os presentes ninguém se lhe assemelha na idade. O seu octógono aniversário já há muito passou, o sentido da visão foi pelo tempo parcialmente retirado, mas mantém a lucidez de uma pessoa que foi instruída pelos seus longos e árduos anos.
Pele queimada pelo tempo, olhar esguio como quem procura a melhor focagem das imagens que defronte dos seus olhos quase moribundos vão passando, o Ti Armindo vai caminhando pé ante pé, apalpando as irregularidades do terreno que vai pisando em direcção á cadeira que foi estrategicamente colocada defronte do palco, para que o Ti Armindo possa apreciar, e talvez recordar os seus tempos de juventude.
De tempos a tempos vai aplaudindo os sons que ouve, num gesto quase mecânico imediatamente interrompido pela necessidade de procurar nos seus bolsos a carteira onde tem cuidadosamente guardados os seus cigarros, dispostos harmoniosamente como se de um tesouro se tratasse. Mas o isqueiro prega-lhe uma partida, apesar das consecutivas fricções insiste em negar-lhe a chama desejada. E neste clima vamos desfrutando desta tarde, uns ouvindo os sons de outrora, outros dançando e o ti Armindo insistindo no seu isqueiro que insiste em negar-lhe o fogo desejado, mas sempre acompanhados pela sombra dos carvalhos, que frequentemente é perturbada por uma leve brisa.