Há pessoas que vivem apenas das ideias das suas cabeças. Atravessam o mundo por elas. Resistem a todos os nãos. Mais cedo ou mais tarde brilham. Saber sofrer é saber vencer.

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27
Ago 13
Carta aberta aos candidatos á junta do agrupamento das freguesias de Arnoso Santa Maria , Arnoso Santa Eulalia e Sezures
Não pretendendo entrar em questões politicas deixo aqui o meu singelo contributo como cidadão destas freguesias. E como tudo, vale o que vale.

A conjectura económica que atravessamos não permitem grandes investimentos pelo que promessas Herculianas não são levadas a sério mas a falta de projectos pode ser relevante de falta de ambição e criatividade, pois como temos visto em algumas das freguesias vizinhas, a conjectura económica não tem sido handicap para a falta de obra.

É importante a envolvencia de toda a população pelo que considero positiva a consulta aberta á população de forma a fazer um levantamento de todas as necessidades para posteriormente estabelecer prioridades e projectos de forma a racionalizar mais eficazmente os parcos recursos económicos.

De entre as prioridades que considero mais importantes.
-Conclusão de saneamento e abastecimento de agua
- Manutenção e melhoramento do Posto de Saúde
- Requalificar o acesso á igreja de Arnoso Santa Maria de forma a dignificar o centro da freguesia e recuperar os centros cívicos das restantes freguesias.
- É prioritário fazer análises periódicas em alguns fontanários publicos pois a população cada vez mais recorre a estas fontes para consumo domestico com receio da contaminação da agua das suas habitações. No entanto desconhece-se se a agua dos fontanários é melhor.

Medidas com pouco impacto económico a nível de execução.
- Ligar as 3 freguesias com transportes públicos (TUF). Parece-me um paradoxo pensarmos em trazer o metro á nossa cidade mas as freguesias ainda não estarem todas servidas pela TUF.
- Fomentar uma ligação entre todas as associações existentes nas 3 freguesias de forma a serem promovidas actividades em conjunto. Possivelmente uma feira anual ou bienal onde se desse a conhecer as associações, história, cultura, artesanato e todo o potencial industrial das freguesias.
- Fazer um levantamento de todos os pontos de interesse arquitectónico, cultural e paisagístico e criar um PR á semelhança dos existentes em Vale S. Cosme e Lemenhe, ou ciclotoristico de forma a promover as freguesias no exterior e atrair visitas.
- Existem espaços disponíveis, como a escola de Sezures bar junto á igreja de Arnoso e juntas de freguesia onde os serviços vão ser reduzidos que poderiam ser aproveitados para promover o surgimento de associações.
Por ex.
Associação etnográfica para fazer um estudo, recolha e conservação de artefactos, alfaias e memórias dos mais velhos para criação de um museu no espaço que fosse atribuído. Não podemos esquecer que Arnoso Santa Maria tem um passado muito ligado á cestaria e tapeçaria que está a desaparecer com a memória dos mais velhos e o mesmo acontecerá nas outras freguesias do agrupamento
Os antigos balneários do DECA tem espaço que poderia ser disponibilizado para um grupo de ciclismo, pedestrianismo ou outros em troca da sua manutenção e actividades abertas á população.
....
....
Desde a demolição do velho e inacabado salão paroquial que tem sido constantemente reclamado um novo salão. Acho que já chega de obras megalómanas que acabam em ruínas antes de estarem prontas pelo que uma parceria a longo prazo com a Banda Marcial de Arnoso poderia resolver o problema. Este espaço, também ele inacabado, poderia dar um excelente centro cultural a norte do concelho caso surjam apoios para a banda o poder terminar.

Fazendo uma breve analise ás infraestruturas de lazer e desportivas podemos constatar que Arnoso Santa Eulalia tem um parque de lazer e praia fluvial, Arnoso tem um excelente parque desportivo e Sezures.... Sezures também merece alguma infra estrutura que orgulhe os seus habitantes.
Eu apontaria para uma infraestrutura que possa servir mas que não exista nas freguesias do agrupamento. Por Ex. uma piscina.
Mas onde obter recursos para tal?
Sezures tem um campo de futebol na sua periferia totalmente ao abandono. Provavelmente uma venda ou permuta deste terreno por um outro numa posição mais central poderia, para alem de dar um espaço mais adequado e junto da população, trazer algum ganho financeiro para ajudar a parte da construção.
publicado por Paulo da Silva às 16:41

01
Jul 13
publicado por Paulo da Silva às 21:01

O monstro!
Passamos uma boa parte da nossa vida a estudar.
Sonhamos um futuro e criamos ambições
Corremos em busca de algo que não conseguimos alcançar
quando lá estamos perto ambicionamos mais
até que não á mais, e não somos mais nós mesmos
não fazemos o que gostamos nem com quem gostamos
criamos um monstro que não conseguimos dominar.

Finalmente vemos que a qualidade de vida não é o ter mais
muito pelo contrario é saber viver com menos.

publicado por Paulo da Silva às 19:17

25
Jun 13

Saudades!
Que saudades de pegar num pedaço de carvão e fazer alguns riscos na esperança de fazer aparecer um desenho.
Que saudades de pegar num livro de receitas,alguns ingredientes, juntar tudo sem saber que sabor ia sair.
Que saudades de pegar na mochila e percorrer terreno desconhecido.
Que saudades de passar uma tarde a lustrar o carro.
Que saudades de estar num banco a imaginar o que vai na cabeça de quem vai passando.
Que saudades de estar em casa e não estremecer de cada vez que tocam á campainha ou o telefone
Que saudades de escrever frases que só a mim fazem sentido
Saudades de um sarau em família
Saudades de quando era pequeno e queria ser crescido.
Saudades de quando o tempo demorava a passar
Saudades de quando pensava que tinha o futuro garantido.

Que saudades de, não ter saudades.

publicado por Paulo da Silva às 19:20

09
Set 12

A Democracia surgiu na Antiguidade Clássica em Atenas, na Grécia onde o governo era realmente exercido pelo povo, que fazia reuniões em praça pública para tratar de vários assuntos e problemas, era a chamada Democracia Direta. Neste tipo de democracia, as decisões são tomadas em assembleias públicas.

Com o crescimento das populações, as reuniões em praça pública ficaram impossíveis de acontecer, surgiu, então um novo tipo de Democracia, a Democracia Representativa, onde o povo se reúne e escolhe por meio do voto os representantes que irão tomar decisões em seu nome.


A democracia representativa tem ao longo das últimas décadas demonstrado que não serve os interesses, os anseios, a determinação de um povo. Os governantes são eleitos democraticamente com base nos projetos apresentados em campanha eleitoral, mas depressa parecem esquecer-se das promessas que fazem. Com a tomada de posse parece que os governantes mudam de personalidade, deixam de acreditar no que defenderam enquanto partidos da oposição e seguem um caminho por vezes completamente oposto aquele que defenderam em campanha eleitoral.
Na democracia representativa os eleitos, como representantes da vontade do povo, tem que fazer valer a vontade do povo que o elegeu, mas isso não tem acontecido, mandato após mandato, partido após partido, mais á esquerda ou mais é direita, os governantes vão tomando as suas decisões com base em pressões dos poderosos grupos económicos subjugando o povo aos interesses destes grupos.


O que temos são governantes eleitos democraticamente pelo povo, que governam a interesse dos grupos económicos. Fazem investimentos descabidos em nome do progresso enquanto podem e quando o povo começa a levantar questões sobre a sua competência saem apressadamente do poder que lhes foi confiado deixando o lugar para um novo governo que rapidamente entrará no mesmo caminho do anterior.


Temos visto que esta elite de governantes é intocável, nunca é responsabilizada pelos seus atos. Afinal foi o povo que lhes concedeu o poder democraticamente. Uma vez ou outra são levantadas suspeitas que rapidamente desaparecem quer por falta de provas quer pelo afastamento do visado.


Viveríamos num país melhor se, aqueles a quem é confiada a responsabilidade de governar fossem apartidários. Cidadãos escolhidos aleatoriamente entre a população sem registo criminal, de vários estratos sociais, credos e idades que deliberassem segundo a vontade do povo.
O estado do Estado tem-se mostrado muito preocupante. É muito claro que o Estado tem uma estrutura muito pesada aos ombros da população contributiva. Foram feitas obras gigantescas talvez para alimentar empresas a quem os políticos devem favores eleitorais, para fazer essas obras foram feitos pedidos de empréstimos que não somos capazes de suportar. Prestações sociais pagas a qualquer pessoa que se manifestasse sem vontade de trabalhar e cargas pesadas de impostos para os trabalhadores e empresas que se esforçam para criar riqueza.


Da mesma forma que uma família ou uma empresa não pode ter mais despesas que receitas também o Estado não pode, no entanto foram-se fechando os olhos ao longo de décadas até se atingir uma situação incomportável.


Como forma de corrigir o défice tem sido feito uma forte a aposta nas privatizações, que não é mais do que uma forma de nos colocar mais uma vez nas mãos dos grupos económicos. Existem sectores que tem que ficar nas mãos do Estado como é o caso da Agua, telecomunicações, combustíveis e transportes. Estes setores são fundamentais para o controle da economia, são reguladores do bom funcionamento da sociedade. Mas ainda assim estas empresas devem ter limites. Nos últimos anos temos visto algumas empresas publicas a sub carregar os consumidores com aumentos mas a apresentarem lucros brutais.
Mais uma vez isto não pode ser aceitável. Uma empresa pública, que presta um serviço público mas explora os consumidores! Estas empresas tem que ter uma margem de lucro mínima para assegurar o seu bom funcionamento e procurar reduzir as suas tarifas ao consumidor. Isso também é serviço público.

Como forma de reduzir a diferença entre as despesas e as receitas tem-se efetuado constantes subidas de impostos e contribuições.

Não é o povo que tem que se adaptar aos gastos do Estado mas o Estado que tem que se adaptar aos rendimentos obtidos através dos impostos e contribuições dos contribuintes. O Estado impõe e os contribuintes indefesos vão contribuindo até á asfixia sem poderem fazer exigências.


Os governos que temos tido têm colocado em lume brando, e vão aquecendo, aquecendo, testando os nossos limites. Esse limite está a chegar, e quando chegar vamos ter novamente pessoas nas ruas a abolirem aquilo que nos “impuseram” como sendo uma democracia.
Um povo que não vê a sua vontade expressa no parlamento não vive em democracia.
Uma democracia representativa (aleatória) seria mais verdadeira uma vez que os representantes do povo teriam uma noção verdadeira da realidade, não seriam necessários partidos políticos e as suas ideologias confusas pois vêem-se deputados a votar não de acordo com a sua vontade mas de acordo com a vontade do partido que representam. Acabam-se os financiamentos partidários, os gastos com eleições, os lobbies os tachos.
Não seria um governo perfeito mas nos corredores da assembleia iria ouvir-se a mais pura vontade do povo.

publicado por Paulo da Silva às 14:00
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22
Out 10
publicado por Paulo da Silva às 12:58

28
Set 10
A manhã do segundo dia começou bem cedo, não sei a que horas mas o burburinho dos restantes montanheiros não me deixou recuperar das poucas horas que dormi. Também não dava para mais, não tardava o pequeno-almoço estava a ser servido. Empanturrei-me com tudo o que pude pois o dia exigia muita energia.
 Preparamos as mochilas e apressadamente tiramos a foto do grupo enquanto os “noestros hermanos” mostravam alguma impaciência pelo nosso atraso. Finalmente colocamos as botas no caminho, ou melhor no trilho que nos levava a Las Colladinas. Por diversas vezes paramos para lançar um último olhar em jeito de despedida sobre o refúgio que nos acolhera na noite anterior. Atravessamos o Hoyo de Los Llagus em direcção a Hoyos Sengros. Neste local vislumbramos um reflexo ao longe. Este reflexo era emitido pela mítica Cabaña Veronica.
 
 Atrás de nós ficava a Torre Blanca e a Torre Sin Nombre também tivemos um primeiro vislumbre do Picu Urriellu. Contornamos o Tesorero, que divide três províncias Espanholas e ficamos de frente com a Torre dos Horcados Rojos que seria um dos objectivos do dia seguinte e detivemo-nos por breves momentos a vislumbrar o Hoyo Sin Tierra que permitia a nossa visão até ao horizonte. Continuamos pelo Hou Los Boches e seguimos pelo Hou sin Tierre por entre descidas vertiginosas e subidas que nos pareciam impossíveis de ultrapassar, mas sempre, sempre sobre cascalho.
 
Ao descer para o Hou Cerréu estas pedras soltas insistiram em nos acompanhar, rebolando á nossa frente sempre que pousávamos um pé, pondo e perigo quem nos antecedia. Numa das encostas, imponente, La Torre Cerreu, o ponto mais alto dos Picos da Europa. O Hou Negro ladeado pelas imponentes Torre Cerréu e Picu Los Cabrones impressionou-me. É quase um anfiteatro natural, com uma acústica que fazia ecoar as nossas palavras mais baixas. Passado este local já víamos o nosso ponto de destino lá bem lonje, lá bem no fundo. O Refugio de Los Cabrones. Atravessamos o vale que dá nome ao refúgio e terminamos o dia com uma majestosa sopa seguida por um prato de, claro está, massa mas desta vez lasanha. Terminado o jantar o guarda do refugio murmura qualquer coisa á mesa que não percebi. Não pelo tom de voz empregue mas porque não percebo muitas palavras em Espanhol. A mensagem que transmitiu aconselhava a subir a encosta para ver o por do sol que pelos vistos seria muito bonito daquele local. Sem hesitar levantei-me e não conseguindo arranjar companheiros para subir mais uma encostazinha fiz-me ao caminho. Mas depressa me apercebi que afinal não seria assim tão fácil. Mais uma cascalheira a subir, de barriga cheia e de socas. Mas afinal vim de tão longe e tinha que aproveitar todos os momentos. Chegado ao topo procurei uma pedra onde me pudesse sentar confortavelmente e desfrutar do acontecimento que iria ocorrer de seguida.
 
Mantive-me no local por longos momentos, extasiado e abstraído do mundo. Éra apenas eu, a serra e aquele por do Sol. Mas regressemos á terra pois está a escurecer rapidamente e eu com toda a excitação esqueci-me de trazer o frontal. Desço a encosta em direcção ás luzes que saem pelas janelas do refugio e que me servem de farol no caminho que tenho que seguir. O refúgio Jou de Los Caberones tem condições muito semelhantes ao anterior, mas já tem casa de banho. Se pudermos chamar casa de banho a um anexo desviado algumas dezenas de metros apenas com uma sanita e aonde só temos acesso por um trilho que vai contornando rochas e de acesso bastante difícil á noite. A sala de jantar está revestida a madeira, o que lhe confere um ar mais acolhedor. Ao lado um anexo serve de quarto de dormir com camas dispostas em dois níveis que mais se assemelham com uma barra de batatas do que com um dormitório. A partir da sala sobem-se umas escadas que dão acesso á cozinha e aos aposentos dos anfitriões.
 
A lotação do refúgio é muito limitada pelo que teremos que dormir na sala. Num gesto visivelmente muitas vezes repetido, arrastam-se as mesas para junto das paredes, colocam-se colchões por baixo e por cima destas e será aqui que passaremos a noite, uns com a cabeça debaixo da mesa olhando para o fundo do tampo e outros imediatamente por cima tentando não se mexer muito para não caírem abaixo. Mas ainda antes de dormir é tempo de dar uma espreitadela ao céu para ver como estaria o tempo no dia seguinte. Para nosso deleite o céu apresentasse-nos cheio de pequenas luzes cintilantes como que a saudar-nos. Ao centro como se de um engarrafamento na auto-estrada se trata-se podemos ver a via láctea com milhões de estrelas, umas maiores, outras mais pequenas. Ao fixarmos o olhar no infinito sentimo-nos a viajar por este quadro mágico. Perdemos a noção de tempo e tornamo-nos parte do espaço. Uma estrela cadente desperta-nos deste panorama e lembra-nos que devemos ir para a cama.
 
Continua...
publicado por Paulo da Silva às 20:44

20
Set 10

 

 

Valdeon

 

    

 

 

Tudo começou á muito, muito tempo atrás. Bem, não foi assim á tanto tempo, foi apenas á alguns anos quando um dia daqueles mais enfadonhos passeava pela internet e vi algumas fotos dos Picos da Europa. Um lugar que passaria a fazer parte do meu imaginário e consequentemente um objectivo a atingir.  
No inicio de Agosto tomei conhecimento que o Clube de Praticantes de Montanhismo Um par de botas se iria mais uma vez aventurar neste destino por mim á tanto tempo desejado. Para eles seria mais uma aventura, para mim seria a realização de um sonho. Apesar de todos os entraves parecerem ultrapassados ainda estava com algumas indecisões mas já sentia o sangue a ferver com a excitação. Mas, não havia muito a hesitar, a oportunidade estava ali e decidi não a deixar escapar.   
Em vésperas do primeiro dia de Setembro fazem-se os últimos preparativos e põe-se o relógio a despertar para as 4:50 Horas para aquele que seria o primeiro dia de aventura. Tal era a excitação que acordei ás 4:43 e saltei da cama surpreendendo o relógio antes de ter tempo de soltar o seu som estridente.
  
Pelas 5:30 Horas, ainda a cidade dormia, já o grupo de cinco aventureiros se encontrava reunido no local do costume, viam-se algumas poucas almas de ambulantes pela rua, ainda sonolentas mas que pelo passo que levavam tinham destino marcado. Que pensariam elas, que acabaram de ser arrancadas da cama se soubessem o propósito de ali estarmos. Que seriamos doidos, doentes ou outras coisas piores, mas de uma coisa tenho a certeza, estávamos mais vivos que elas.
  
 Bagagem carregada estava na hora de partir, pois a jornada é longa e o relógio não espera. Estrada fora, uns tentando recuperar das poucas horas dormidas, outros tertúliando sobre assuntos diversos. Depois de muitos quilómetros e algumas paragens para café chegamos a Riaño, uma pequena vila encostada a uma albufeira rodeada de montanhas que nos ofereciam um pequeno vislumbre das paisagens que se seguiriam. Após uma pequena paragem para desentorpecer as pernas colocamo-nos a caminho para a última etapa da viagem que nos levaria a Valdeon, uma vila pitoresca aninhada entre gigantescas montanhas e que ficava a caminho de Cordiñanes, local onde deixaríamos a viatura e após uma refeição ligeira e reforçarmos as reservas de líquidos. Este seria o ponto de partida, os nossos olhos percorriam em vão a encosta da serra procurando o trilho que deveríamos seguir. Se não fossem as marcações do trilho e a experiencia dos companheiros de aventura acho que dificilmente sairíamos do local de partida.
  
Após caminharmos algumas dezenas de metros chegamos ao sopé da montanha onde existe um pequeno trilho, que não tem mais de 80 cm de largura, em alguns pontos talvez menos, e que nos vai conduzindo em torno da serra, sempre a subir. A dada altura olhamos para cima e deparamo-nos com varias dezenas de metros de rocha escarpada, olhamos para baixo e temos a mesma visão. Aqui não á tempo para parar nem lugar para ter medo. Limitamo-nos a caminhar e a subir até chegarmos ao Canal de Asotín. Aqui sentimos mais segurança, a paisagem muda, agora caminhamos por um vale arborizado que nos leva a um prado verdejante onde algumas cabras vão pastando indiferentes a uem por ali passa. Mas as facilidades são ilusórias neste terreno, se até aqui parecia difícil para a frente acabaria por ser pior. Para chegarmos ao nosso destino ainda tínhamos muito que subir. Quando parecia que seria impossível vencer a montanha começa a chuviscar, o que nos iria obrigar a reforçar os cuidados pois as rochas começaram a ficar escorregadias. Com passos curtos mas determinados íamos avançando no terreno até que ouvi um estrondo que pela sua violência seria sinónimo de perigo. Num gesto quase mecânico voltei a cabeça para traz, com tanta velocidade e amplitude que o meu pescoço permitiu e vi um bando de pássaros esvoaçar seguindo-se uma derrocada de pedras. Inconscientemente dei alguns passos apressados para me desviar mas naquele momento já estava fora de perigo. Os que estavam mais adiantados aguardaram pelos que ficaram para traz para nos certificarmos que estávamos todos bem e nos agruparmos pois segundo o chefe mais á frente “iríamos ter que usar as mãos”. Esta expressão não me suou bem, mas também não quis saber o que significava. De qualquer forma também não ficaria muito tempo na ignorância pois não tardou estava diante de uma parede que teríamos que escalar. Escalar? Mais uma novidade para mim, acho que nunca fui bom nem a trepar arvores para roubar fruta nos meus tempos de escola. Sem pensar muito deitei mãos às rochas tentando encontrar pontos de fixação seguros para a escalar. Não consegui evitar alguns passos falsos ou tropeções dos bastões que habitualmente servem para nos auxiliar, mas nestas condições só atrapalham. Terminada a parede já se vislumbra o telhado e uma ponta do alpendre do refúgio Collado Jermoso, onde iríamos pernoitar. Esta visão deu algumas forças que seriam bem necessárias para a última subida, talvez a mais violenta do dia pois para além do declive só tinha cascalho o que fazia que a cada passo que déssemos para a frente deslizássemos no sentido inverso. Se não fosse tão duro e já termos feito cerca de 1100 metros de desnível até teria sido divertido. 
Refugio Jermoso
 
Chegados ao refúgio deparamo-nos com uma pequena casa construída em 1942 a uma altitude de 2065 metros, voltada para um precipício e com uma vista magnífica. A sua porta rude em ferro dá acesso a um pequeno átrio onde podemos descalçar as botas e darmos algum descanso aos pés dentro de socas disponibilizadas. Deste pequeno átrio temos acesso através de umas escadas quase verticais ao sótão onde existem colchões pelo chão onde viríamos a dormir. A sala de jantar tinha a mesma arquitectura da casa, em jeito de taberna do Minho com chão em cimento, bancos de madeira e mesa com toalha em plástico com quadrados vermelhos e brancos. Pelas paredes estão espalhados alguns quadros com fotos tiradas na zona ou de locais que mais tarde espero vir a descobrir. Algumas pequenas janelas deixam entrar alguns raios de luz e deixam-nos jantar acompanhados pela beleza da serra. A casa de banho, bem, a casa de banho não existe pelo que cada um tem os cuidados de higiene que pode. Uns toalhetes para passar pelo corpo e uma lavagem aos dentes terão que servir. Apesar das condições que este refúgio nos oferece parecerem ser escacas, nunca nos faltou nada, aliás acho que se mudarem alguma coisa estragam este local.
 

 

 A hora de jantar é uma festa, ladeados pelos companheiros ou por desconhecidos que ali estão com o mesmo propósito, vamo-nos fartando para tentar recuperar as energias que perdemos durante o dia. A ementa passa sempre por uma sopa e um prato de massa. Massa, massa todos os dias, preparada das mais variadas formas, mas que dadas as condições parece um autêntico repasto dos deuses.

 

Já deitados na cama, ou melhor nos colchões íamo-nos acomodando tentando encontrara melhor posição para o merecido repouso, mas eu no meu canto permanecia vigilante, ouvindo a chuva que caia, agora com mais intensidade sobre as telhas que nos estavam tão próximas. A minha respiração estava mais acelerada e profunda que o habitual, era o meu corpo a tentar adaptar-se á altitude a que não estava habituado. Sempre que fechava os olhos era assolado por imagens do percurso que fizera durante o dia, só que agora estava aterrorizado por imagens de pedras a cair das escarpas e de quedas em ravinas e por todos os perigos a que estive sujeito mas que no terreno me tentava abstrair concentrando-me apenas no nosso propósito. E uma ideia igualmente arrepiante, a de que o dia seguinte as dificuldades seriam maiores. 

 

 

 

Continua...

 

publicado por Paulo da Silva às 21:06

18
Ago 10

Estranhos fins de tarde estes em que olho pela minha janela e vejo todo o horizonte enublado por espessas camadas de fumo.

O sol em vermelho escuro não consegue romper por entre estas nuvens, e as faúlhas que silenciosas vão entrando pela janela marcam a sua presença em todas as superfícies.

 

É estranha esta imagem, a que, dia após dia, estranhamente nos vamos habituando.

 

São tantos os anos que demora uma semente e fortalecer-se e a formar uma árvore, e tão poucos os minutos para que a sua existencia seja destruída.

 

 Ouvimos o crepitar das plantas a pedir misericórdia pelo seu infortúnio e as suas almas que se elevam no céu em forma de fumo. Soldados da paz vão-se debatendo até á exaustão sem nada poderem fazer. Populações desesperadas tentando defender os seus haveres e os animais esfomeados que vão deambulando pelos terrenos onde antes encontravam prados agora encontram planícies desprovidas de vida.

 

Tristes almas que provocam tamanha devassidão. Pudesse eu, com as minhas palavras ferir de morte estes assassinos que não compreendem o mal que fazem, que acendem um fósforo motivados por interesses pessoais, e que não entendem o mal que fazem para prazer das suas curtas e miseráveis vidas, mas que vão destruindo toda a existência deste planeta que é a nossa casa.

publicado por Paulo da Silva às 12:08
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21
Jun 10

 “O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever.”

 

José Saramago 1922-2010

publicado por Paulo da Silva às 23:57

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